Esse texto dá continuidade ao acompanhamento da situação do mercado de trabalho da agropecuária no Brasil, com foco em entender os potenciais efeitos da covid-19 sobre o nível de ocupações, ou a população ocupada (PO), no setor. Isso é feito a partir dos dados da PNAD Contínua mensal, que tiveram a última divulgação no dia 30 de setembro pelo IBGE, com referência ao trimestre móvel de maio a julho.
Lembra-se que a agropecuária, em 2019, representou 45% do total de ocupados no agronegócio (mais de 8 milhões do total de 18 milhões de pessoas no agronegócio como um todo). No trimestre móvel de maio-junho- -julho, foco deste relatório, 8,049 milhões de pessoas estavam ocupadas na agropecuária.
A tendência de redução do número observada desde o trimestre móvel encerrado em março foi, então, interrompida, sendo observada leve alta de quase 1% frente ao trimestre móvel imediatamente anterior (abril-maio-junho). Ainda assim, frente ao mesmo trimestre móvel de 2019, a população ocupada (PO) teve queda de 6,9%, o equivalente a 599 mil pessoas.
Em relatórios anteriores, as análises do Cepea indicaram que as quedas da PO agropecuária em decorrência da pandemia surgiram já em março e chegaram a seu ápice no trimestre móvel encerrado em maio, e que, no trimestre encerrado em junho, houve alguma estabilização – ou seja, o cenário em termos de número de ocupações na agropecuária não se agravou em junho, mas também não melhorou.
Neste presente relatório, a mesma análise foi aplicada ao trimestre encerrado em julho. Sazonalmente, a PO da agropecuária tenderia a aumentar entre junho e julho, assim como os dados apontam. Então, para avaliar o potencial efeito da covid-19 sobre o número de ocupações, foi preciso saber qual seria o nível em maio-junho-julho caso refletisse apenas a sazonalidade e os movimentos cíclicos e de tendência já conhecidos.
A Figura 1 mostra os resultados do modelo do Cepea, que realiza essa análise. LS e LI são os limites superior e inferior para a série estimada (ocupados esperado), construídos considerando-se o intervalo de dois desvios-padrão. A diferença entre “Ocupados” (o número observado) e “Ocupados Esperado” (o número estimado) reflete a existência de choques não antecipados, que, no período analisado, provavelmente se referem à pandemia da covid-19.
Conforme a Figura, no trimestre móvel encerrado em julho, o número de ocupados na agropecuária continuou bastante aquém do limite inferior do que pode ser considerado normal. Especificamente, a PO agropecuária observada no trimestre móvel encerrado em julho, de 8,049 milhões de pessoas, foi 3,7% ou 310 mil pessoas menor do que era esperado para esse período.
Assim como observado no trimestre encerrado em junho, esse choque que ainda persiste em julho reflete sobretudo o efeito acentuado verificado em maio. Após a estabilização de junho, foi observada, inclusive, alguma melhora em julho no que tange à diferença entre o número observado e o esperado de empregos/ocupações na agropecuária.
Segundo o relatório trimestral de mercado de trabalho divulgado pelo Cepea, houve forte recuo no número de pessoas ocupadas no agronegócio em geral entre os segundos trimestres de 2019 e de 2020. Foi a maior queda nessa comparação desde o início da série histórica do Cepea, em 2012 – possivelmente relacionada à pandemia de coronavírus.
Entre os perfis de trabalhadores, os mais afetados pela crise foram os tradicionalmente mais vulneráveis no mercado de trabalho: empregados sem carteira assinada, com menores níveis de escolaridade e mulheres. Setorialmente, os destaques em reduções da PO foram: cana-de-açúcar, café, produção florestal e “outras lavouras” na agricultura, e vestuários e acessórios, produtos e móveis de madeira, massas e outros, papel e celulose e bebidas na agroindústria agrícola.
Na agroindústria agrícola, apenas a indústria de óleos e gorduras vegetais apresentou aumento da PO, e para a indústria açucareira houve estabilidade. No ramo pecuário, foram observadas reduções para pesca e aquicultura e bovinocultura e para a indústria de couro e calçados de couro. Ao contrário, o número de ocupações cresceu para as criações de suínos e aves e para laticínios.
Para referência, considerando-se o cenário geral do País, no trimestre móvel encerrado em julho, 82,03 milhões de pessoas estavam ocupadas no Brasil, queda de 1,6% frente ao trimestre móvel encerrado em junho e de 12,3% frente ao mesmo trimestre móvel de 2019. Logo, embora o cenário para a agropecuária tenha aparentemente parado de se agravar desde junho e mesmo melhorado marginalmente em julho, esse não parece ser o caso para os demais setores econômicos.
O Cepea continuará monitorando mensalmente a situação do mercado de trabalho agropecuário diante da pandemia.